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domingo, 7 de dezembro de 2008

Meu bebê Johnson

Acho que você já sabe qual o perfil preferido dos pretendentes à adoção: criança branca e recém nascida. E era isso mesmo que meu marido queria.

Eu venho de uma família adotiva, são três biológicos e um adotado (inter-racial), mais três primos adotados. Mas nada disso ajudou para que ele mudasse a mentalidade dele. Enfim, nós nos cadastramos e adotamos uma criança no perfil que meu marido aceitava. Meu filho era um “bebê Johnson”, um anjinho, super-saudável, dificilmente ficava doente, caso passasse a hora de mamar não reclamava etc. O bebê perfeito.

Há alguns meses, uma psicóloga do fórum do Guarujá, a Maria Antelma, veio dar uma palestra para o nosso grupo. Ela contou que quando atende os casais para cadastro sempre explica que um recém-nascido é uma caixa de surpresas, que você não sabe o que vai sair, mas quando você adotada uma criança maior não há surpresas.

Enfim, quando meu filho completou dois anos, ele se transformou. De “anjo”, virou um “capetinha”, o tipo de criança que vira lenda até na escola.

Eu sei que meus vizinhos do prédio são tolerantes porque, enganosamente, pensam “coitadinho, ele é adotado, teve traumas de gestação...”

Para resumir a história, hoje ele está com três anos e meio e eu o trato com um psiquiatra. Até agora, ele foi diagnosticado com déficit de atenção e hiperatividade, mas o futuro é incerto e ainda pode ser existir algo mais. E o médico já foi claro que nada disso tem conexão com a adoção ou a gestação dele.

Ele é uma criança bem difícil e caso estivesse num abrigo, certamente seria muito difícil alguém aceitá-lo.

Eu e meu marido pensamos que caso tivesse nascido da minha barriga, tudo isso também poderia ter acontecido. Aliás, no nosso grupo há um casal com um casal de filhos que não são parentes biológicos entre si e, há pouco tempo, ambas as crianças foram diagnosticadas com dislexia.

Eu até penso que consigo lidar bem com ele, tenho muuuuita paciência e até diminuí meu horário de trabalho em razão dele. Além de fazer fono três vezes por semana, não posso deixá-lo com minha mãe. Afinal, tenho que ter bom senso. Se é muito cansativo para mim, imagine para ela. Também não posso ter uma babá, pois provavelmente a pessoa deixaria ele fazer o que quer só para resolver o problema na hora. O meu marido não tem tanta paciência como eu, e eu fui me aprimorando e aprendendo, orientada pelo médico a colocar mais limites, e meu anjinho (eu ainda o chamo assim) aprendeu a me respeitar, apesar de sempre me testar, como todos os filhos fazem.

Eu gosto de contar minha história pois é um exemplo muito bom para os pretendentes à adoção.


Depoimento enviado por Carla
MATERNIZAR - Grupo de Apoio à Adoção de São Vicente (SP)
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